Nela, a mulher do sorriso eterno
Se tivesse que descrever a Nela, a irmão do Nuno, em poucas palavras, diria que ela é a mulher do sorriso eterno, sorriso que leva nos lábios e na alma, como um dia de sol que nunca acaba. A vida já lhe deu tempo para acumular muitas histórias, mas agora que os filhos estão criados e a vida e a saúde são descomplicadas, reavaliou as suas opções e concluiu que o melhor é mesmo aproveitar as férias para por o pé no mundo e acrescentar mais histórias de outras terras à sua história pessoal. E não poderia ter encontrado melhor razão para o fazer do que juntar-se a nós. Hanoi recebeu-a com abraço pegajoso do calor húmido que se fazia sentir. Mas calor, muito calor, era precisamente o que buscava, depois dos rigores de um inverno passado no berço das montanhas suíças.
O lugar já comum nesta viagem, sempre que nos reencontramos com os entes queridos, voltou a repetir-se: como se fosse dia de natal e se aguardasse com curiosidade e antecipação o abrir das prendas, que neste caso não se encontravam num sapatinho mas numa mala, por sinal grande e pesada, que vinha carregadinha de miminhos alpinos que eram tantos que depois de tudo aberto parecia-nos uma caixa de Pandora – é que ia ser um problema logístico carregar tudo nos nossos alforges…mas com isso podíamos preocupar-nos mais tarde, e de resto, o que eram bens comestíveis podiam ir levando avanço.
Escapando às multidões – a “nossa” Baía de Halong
Definir itinerário não foi difícil, com menos de quinze dias e um país com mais de 4200 quilómetros da ponta norte à ponta sul, ficaríamos restringidos com o que o norte do país tinha para oferecer, o que, na realidade, era mais do que suficiente para nos manter ocupados entre autocarros cama, barcos, comboios e mini-vans.
Começámos pela cereja no topo do bolo – Halong Bay
Façamos então uma equação onde removemos os turistas, aos milhares e, os guias turísticos, às centenas. Adicionamos um barco onde passar a noite num cenário tão surreal, quanto belo – não quantificáveis – assim como uma boa dose de tranquilidade e serenidade. Depois multiplica-se o magnífico por de sol, o mar tranquilo e a boa companhia , e adiciona-se o rótulo de património da humanidade. O resultado é o equivalente ao sítio perfeito para passar uns dias, e certamente um dos mais bonitos das nossas viagens.
A baía de Halong é um local mágico, mesmo para quem tem andado a ver formações cársicas nos últimos seis meses quase a toque diário. Sim, os turistas são muitos. A viagem em pacote no barco, que se faz nos dois primeiros dias, marcada ao ritmo da pressa de um guia mal disposto, testou por vezes a nossa paciência. Muitos Vietnamitas dependem do turismo como fonte de rendimento, mas nota-se que alguns estão fartos até às orelhas de o fazer. Adiante. Quando no final do dia, sob as águas esverdeadas serenas, como um lago com cheiro a mar, rodeados por outros barcos e pelos gigantes de pedra, pusemos o dia em perspectiva, concluímos que tínhamos uma sorte danada em estar ali, e isso feitas as contas, era tudo o que importava.
As duas noites que originalmente tínhamos planeado – uma num barco, outra num resort numa das ilhas da baía, prolongaram-se por quatro. Depois das duas primeiras noites, – as que estavam incluídas no pacote que comprámos em Hanoi, percebemos que a melhor forma para explorar a baía era mesmo de kayak, que fizemos no terceiro dia, com a sensação de que tínhamos uso quase exclusivo daquele cenário grandioso. A última noite foi passada em Pak Ba, a maior das ilhas e uma espécie de Algarve insular, onde percorremos as estradas semidesérticas em duas scooters alugadas, trilhando pelas aldeias plácidas e os montes a transbordar de selva, parte de um parque Natural, terminando o dia na praia, com mais um por de sol inspirado nas pinturas do Turner, e com uma cerveja bem fresquinha na mão, com já vem sendo nosso hábito.
Sapa, a vila na montanhas das gentes em cor
“Guest-house, guest-house. Barato. Venham e fiquem na minha guest-house. Preço especial para vocês”. Do assento cama onde tentávamos a algum custo acordar, só se viam pernas e braços com papeis e cartões apontados às nossas caras e vozes sem rosto a convencer-nos das vantagens de ficarmos alojados nos seus estabelecimentos. Regra número um para qualquer vendedor discernido – deixem-nos acordar primeiro antes de nos tentarem impingir o que quer que seja – são seis da manhã, façam o favor! Nada. – “Guest-house, guest-house, where you from” etc, etc… Saímos do autocarro a bocejar e a esfregar os olhos com metade das brochuras e cartões dos hotéis da vila escarrapachados à frente da cara. “Ok, ok, já temos onde ficar.” “– E onde é que vão ficar, olhem que o meu guest-house é melhor!”, – “Arghhhhhh, deixem-nos em paz”!
Eventualmente as representantes hoteleiras persistentes dispersaram e pudemos respirar o ar fresco da montanha – AR FRESCO – há quase um ano que não sabíamos o que isso era, e no contexto, era a coisinha melhor que nos podia acontecer.
Tínhamos chegado a Sapa depois de uma maratona de um dia quase completo entre barcos, minivans , autocarros e autocarros cama, de Pak Ba via Hanoi. Este bastião enfiado nas encostas do ponto mais alto do país, o Fan Si Pan, é um refúgio para as gentes da cidade e turistas tentando escapar das garras asfixiantes do calor e do ar denso e poluído das terras baixas, mas é também onde vivem mais de oito grupos das minorias étnicas dispersos entre vales férteis, arrozais em patamar, florestas coníferas e aldeias perdidas no tempo. Sapa é o local onde confluem ao encontro dos muitos turistas para lhes venderem as peças de artesanato que brotam das suas mãos talentosas. Ocupam as praças e as beiras do passeio e ali mesmo se instalam, muitas deles continuando nos seus bordados e costuras – enquanto soltam para o ar “you buy from me?”. E mesmo sendo um local turístico, experienciar aquele universo em cor, feito de gentes que perpetuam as suas tradições e a sua forma de vida, visitar os mercados locais, como o de Sapa ou o de Bac Ha, ou tão simplesmente calçar as botas de caminhada e deixar-se perder pelas aldeias e os vários trilhos, vale bem a pena.
Ninh Binh, a Baía de Halong dos arrozais
Quando chegámos a Nimh Binh depois de uma viagem de mini-van, em que o condutor, possivelmente sob o efeitos de comprimidos daqueles que fazem fazer tudo muito à pressa – incluindo conduzir, parou o veículo a meio da via rápida para levar uma murraça na cara de um outro condutor de uma mini-van, com a qual parecia vir em desquite. Com o orgulho ferido e o olho provavelmente a latejar de dor regressou às funções de condutor, a um ritmo menos acelerado. Não deu para perceber ao certo que raio é que se tinha passado, mas supomos que tivesse algo a ver com rivalidades e concorrências. Irrelevante de todas as formas. O importante foi termos chegado ao destino inteiros e sem mais paragens inesperadas. Na chegada a recepção de boas vindas já habitual – os representantes de hotéis tipo lapas a quererem agarrar-se à rocha– mas nós somos rochas escorregadias e não vamos em conversas e, eventualmente, lá foram resignados pregar “guest-house, barato, bom preço, blá,blá…” a outros fregueses.
Nimh Binh é uma cidade como tantas outras no país, rasgada a meio por uma grande estrada, mas com uma vida de bairro fervilhante. No entanto o que realmente atrai os visitantes a esta cidade encontra-se a cerca de 15 quilómetros, descrito por muitos como a baía de Halong dos arrozais.
Alugámos duas motoretas, que a seguir ás bikes, é sem dúvida ama forma de transporte bastante conveniente. A Nela estava a ficar uma motoqueira craque, decidiu com bastante sucesso aprender a dominar estes veículos nesta viagem e, seguimos os três com o vento quente arrasador a lamber-nos a cara. Passados poucos quilómetros chegámos às planícies de arrozais, no seu interior sobressaiam pequenas aldeias que eram um labirinto de casas, muros e pequenos templos.
Perdemo-nos mas conseguimos eventualmente dar com a entrada do recinto que nos levava até a um pequeno pagode no cimo de um penhasco – o Pagode da Gruta de Mua. No sopé havia um jardim com chorões e rododendros em flor e uma ponte em arco, mas no topo, depois de uma subida árdua feita debaixo do sol inclemente do meio-dia, fomos presenteados por uma das vistas mais quintessenciais do sudoeste asiático, as mesmas que foram iconizadas pelas pinceladas delicadas e expressivas das aguarelas chinesas, onde se vêem penedos verticais, delineados por um rio pasmacento, preenchido por arrozais e pequenos seres em perfil de chapéu cónico arrastando barcos que desapareciam e voltavam a aparecer entre grutas. Descemos os degraus infinitos e fomos até Tam Coc, a paisagem gloriosa que tínhamos acabado de ver. Ai pagámos a um barqueiro para nos levar num passeio relaxante, embora não propriamente solitário, entre grutas e arrozais. O dia terminou com a visita a mais um pagode – a Bich Dong, e com o sol do final do dia estender os seus últimos raios como braços sob os arrozais. Regressámos com um sorriso de orelha a orelha e a sensação de mais um dia muito preenchido e feliz!
Hanoi, a cidade dos reencontros e das despedidas
Duas semanas passaram a correr. De regresso a Hanoi por dois dias, tivemos ainda tempo para nos reencontrar com o nosso grande amigo e companheiro “part-time” de aventuras pelas Ásias – Jorge Montez, acabadinho de chegar do Sul do Vietnam . O reencontro e a partida da Nela, foram o pretexto, embora este não fosse necessário, para no final da tarde regressarmos ao nosso bar preferido – o boteco de rua da bia-hoi . E antes da partida de Hanoi ainda tivemos a triste oportunidade de experienciar algo que nos fez acordar para a realidade presente mas nem sempre aparente – a de que o Vietnam é um país comunista avassalado pela corrupção. Das portas de um bar aberto para umas das ruas a vibrar com vida nocturna uma banda acústica tocava versões verdadeiramente electrizantes de músicas pop, de vez em quando as empregadas de mesa agarravam no microfone e o que se via e ouvia era o êxtase completo sob as suas vozes bem comandadas e poderosas…mas tudo acabou de forma amarga e súbita quando a polícia entrou no bar e tirou os instrumentos aos músicos. Ficou tudo embasbacado, menos os músicos que reagiram como se aquilo fosse já procedimento corrente. Crime? Qual crime? Os criminosos eram os polícias que obrigaram os músicos a ir à esquadra pagar uma espécie de suborno para poderem reaver os seus instrumentos. Fecharam as portas do bar e em tom de desafio fomos todos lá para dentro dançar até às altas horas da noite. Como dizia aquele senhor escocês de saias – “podem levar-nos o coração, mas não nos levam a liberdade”, ou algo do género.
Voltávamos de novo ao aeroporto para nos despedirmos da Nela. Duas semanas na sua companhia tinham passado depressa demais, e ainda ela estava connosco, já sentíamos saudades do seu ser alegre e descomplicado, que irradia sol e calor humano. Mas o “fim de uma viagem é sempre o início de outra” e portanto fica a promessa do encontro marcado – Irão? Até breve então Nelita!
Transfer para o aeroporto de Hanoi
Uma forma económica é aproveitar os serviços das mini-vans, perto dos escritórios da companhia Vietnam Airlines. Custa cerca de 2 euros por viagem. Os mini-buses partem a cada meia hora, ou quando estão cheios. Para apanhar voo, ir com bastante tempo. Leva cerca de 45 minutos a 1 hora, dependendo do trânsito. Ver este link para mais informação.
Alojamento em Hanoi
♦ The World Hotel
7 e 8 Euros a noite, não é propriamente o Ritz. Os quartos são um pouco bafientos e os que estão no lado direito nas escadas não têm janelas para a rua e são ainda mais bafientos e escuros, mas bastante limpos. Os quartos do lado esquerdo têm vistas para a rua e um deles até tem uma varanda bem simpática. Pequeno – almoço simples incluído de pão com chá ou café. No entanto os donos são bastante simpáticos e o que é melhor, não passam o tempo a impingir-te tours. Está muito bem localizado no centro da parte antiga de Hanoi.
♦APT-EZ Holiday Hotel
8 a 12 Euros por noite, é um pouco mais caro e, apesar de ser um pouco melhor do que o The World, não inclui o pequeno almoço e a zona é extremamente ruidosa à noite. Também não está no centro histórico e a única vantagem parece-nos ser o facto de ficar relativamente próximo do sitío onde partem as mini-vans que fazem o transfer até ao aeroporto.
Coisas para ver e fazer em Hanoi que recomendamos
♦ Museu Etnográfico
Paragem obrigatória, sobretudo para quem quer entender um pouco melhor a malha humana do país. Além disso o museu é bastante informativo e no exterior tem réplicas de casas típicas.
Visitámos o Museu Etnográfico no fim de semana e havia um espectáculo de fantoches de água, parece que os fazem com regularidade e se o tivéssemos sabido não tínhamos ido ver o espectáculo que há no teatro perto do Lago de Hoak Kien que nos pareceu menos genuíno e pelo qual tivemos que pagar.
♦ Museu da Mulher
Um olhar à história do país visto através das suas protagonistas, as com nome e as anónimas.
♦ Mausoléu do Ho Chi Minh
Para ver um dos grandes heróis da nação o – “Tio Ho” – embalsamado. Vestir apropriadamente e ir antes do meio dia.
♦ Passear à beira do lago Hoak Kien
Ao final da tarde e não perder o canto da cerveja de pressão – bia-hoi assim como todo o centro histórico
Baía de Halong
Marcámos uma tour de duas noites com Vietnam Backpacker Tour. O dono era do país de Gales e apesar das piadas secas, pareceu-nos bastante informativo. Não sentimos que nos estava impingir e o que pagámos correspondeu às nossas expectativas.
Fizémos o pacote de duas noites. Uma num barco, que optámos ser um barco um pouco melhorzinho. A diferença principal está, ao que parece, na comida e no alojamento na segunda noite – em vez de ficarmos em Pac Ba, que parece ser o caso dos pacotes mais baratos, ficas num resort numa mini ilha da baía onde tens caiaques que podes usar e pequeno almoço e jantar. A comida está incluída no pacote e é bastante razoável.
A terceira noite, como não havia vaga no resort da ilha, fomos de caiaque à procura de outro resort nas outras ilhas circundantes. Encontrámos o Cove Beach Resort, que foi a extravagancia da viagem, mas com a possibilidade de dividirmos os custos por três, valeu bem a pena, o sitío é magico.
A quarta noite fomos para a ilha de Pac Ba. O transfer de barco Cove Beach estava incluído. Atenção que são cerca de dois a três quilómetros do porto a Pac Ba até á vila propriamente dita e o condutor do autocarro não nos queria levar porque não queríamos ficar no hotel para onde nos queria levar em Pac Ba. Aceitamos ver os quartos (para não fazer o caminho até à vila a Pé) mas depois fomos procurar algo mais barato. Encontrámos o CatBa Dream Hotel que ficava mesmo em frente à costa, na rua principal, por cerca de 6 Euros por um quarto duplo (época baixa).
À tarde alugámos umas scooters e andámos pela ilha. O passeio é bastante simpático e as estarads são tranquilas. Existem também duas praias, a cerca de um quilómetro da vila, a segunda das quais aprece ser a mais agradável.
Sapa e o Mercado de Hac Ba
Alojamento em sapa
♦ Sapa Backpackers
7 euros por casal. Localização próxima do centro e da igreja, com vistas para a praça. Quartos simples e limpos. Os preços geralmente aumentam à sexta e ao sábado.
Coisas que fizemos em Sapa e recomendamos
♦ Passeio até à aldeia de Cat Cat. Extremamente turístico mas bastante bonito, sobretudo se se for até às cataratas e perfeito para quem quer comprar souvenirs.
♦ Visitar o mercado de Bac Ha aos domingos – obrigatório! A cerca de duas horas de viagem. Qualquer guest-house pode organizar transportes.Recomendamos no entanto que vão no sábado, por exemplo, para aproveitar o mercado antes das mini-vans cheias de turistas chegarem, e claro, para a melhor luz para fotos, já que as mini vans chegam por volta das 10 e meia.
Nimh Binh
Alojamento
♦ Viet Huong Hotel que nos custou cerca de 5.70 Euros por um quarto duplo. Limpo e alugam scooters. Localizado quase ao fim da rua da estação dos comboios.