Trabalho voluntário com naTerra
Faltam exactamente 11 dias para o voo que me vai levar de Dili a Bali de volta aos meus dois amores: o Nuno e a minha bicicleta. E admito, estou ansiosa para o reencontro. Nos entretantos tenho andado envolvida com a associação a – naTerra – como voluntária. É sempre bom desenjoar da rotina de ciclista vagabunda, não que estivesse enjoada na realidade, mas é bom quebrar a rotina e sobretudo dar uma mãozinha onde ela é precisa, aproveitando para aprender coisas novas.
Surpreendam-se pois aqueles que me conhecem tenho feito muitas coisas que geralmente não faço, desde plantar e regar hortas, alimentar coelhos e galinhas, construir galinheiros, limpar lixeiras, fazer fertilizante e composto, até pão caseiro já fiz! Mas o melhor ainda tem sido conhecer gente muito especial, como o Fernando, co-ordenador e um dos criadores da associação onde estou, a Joana, a Patrícia, a Daniela, a Elena, também voluntárias, o Leo, o Marki, o Malevi, o Domingos, a Saturnina e mais gente timorense todos eles envolvidos com o projecto de uma forma ou de outra. Depois conheci também alguns professores, engenheiros e, até uma juíza. Mas o mais surpreendente foi ter encontrado a minha tia Rosa que já não via há mais de três anos, ou melhor, ela é que me encontrou a mim, na praia.
A vida em Baucau é de festa e alegrias
Baucau, apesar de ser a segunda maior cidade do país não deixa de ser uma aldeia onde todos acabam por se conhecer, mais cedo ou mais tarde.
E festas. Tenho ido a muitas. Festas onde há sempre música, conversas interessantes, boa companhia e “tuasabi”, a aguardente de palma que é boa mas caustica. Tem dado, devo confessar para matar a barriga de misérias, até a um casamento já fui, e a coisa foi interesante para dizer no mínimo.
O ritual de começa a música, levanta-se tudo das cadeiras, vai tudo dançar, pára a música, regressa tudo à cadeira e volta tudo a dançar novamente quando a banda recomeça, é novo para mim. Estava mais habituada a ficar à espera na pista de dança que a música recomeçasse. Em Timor não é assim. Mas também é novidade ter uma serie de homens, rapazes e afins quase a fazer fila para disfrutar do prazer de uma dança comigo, ou melhor dito, para ter os pés pisados e ser motivo de chacota dos demais que ficam nas cadeiras a observar o espectáculo.
Eu compreendo o motivo de tanta atenção, é que ter a oportunidade de dançar com uma “malae” é coisa rara. Éramos um grupo de oito e puseram-nos num lugar de destaque no meio das cerimónias, não tínhamos com escapar. E, nem a minha dificuldade em atinar com os passos – um dois, um dois, um dois – deteve os convidados do sexo opsto, e eram muitos: novos e velhos, baixos e altos, bons e maus dançarinos, perdi a conta e saí de lá cansada mas contente da vida. Acho que não fui a única.
Deixarei Timor com um aperto no coração, e levarei comigo memórias fantásticas das amizades e dos bons tempos que aqui passei. É um país muito especial. Levarei também a sensação de que abri as portas a possibilidades novas na minha vida: a da auto suficiência e da sustentabilidade, tudo se complementa de certa forma sobretudo tendo em conta a forma como gostamos de viajar. Agora mesmo apetece-me ter um hortazinha e produzir a minha comida, fazer o meu pão, fazer a minha roupa, fazer até os meus cosméticos, porque não?
As pessoas em geral estariam numa posição muito melhor se vivessem de forma mais auto-suficiente e, sobretudo mais simples…filosofias à parte, as próximas notícias virão da Indonésia certamente, a dois.